quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Andando em São Paulo

   Todas as vezes que preciso ir a algum lugar que não conheço, anoto direitinho as partes do trajeto que terei de fazer a pé. Eu não dirijo, não gosto muito de carros (uso-os, em caronas, quando é muito tarde), não concordo com a construção de nenhuma rua se ela não tiver um corredor de ônibus incluído no projeto e não consigo ficar sério quando alguém diz: "Que trânsito peguei hoje!", porque penso que é o universo se vingando do motorista. Quando eu estou no carro e pego trânsito, não ligo, porque é o universo se vingando de mim, e eu mereço.
   
   Hoje, eu tinha de ir ao Congresso Saber, no Centro de Exposições Imigrantes. Eu acho que o mundo deveria se resumir a tudo o que fica a até seis quarteirões de distância de uma estação de metrô, mas o mundo ainda não me entendeu, então de vez em quando eu preciso caminhar. Por isso, voltando, quando vou a algum lugar que não conheço, anoto direitinho o trecho que terei de fazer a pé. Quando vou pedir informações, as pessoas invariavelmente dizem "você vira ali e pega o ônibus tal e tal, em dois minutos você está lá". Aí eu digo: "Não, não, eu vou a pé, como faço pra chegar?". Aí me dizem: "A pé? É longe hein?". E eu digo: "Eu vi no mapa, gosto de andar... Você pode me explicar como chego?".

   Assim, por escrito, parece rude. Ao vivo é mais delicado. Mas não muito. Eu quero que entendam que eu vou a pé, e pronto. Em algum momento, as pessoas indicam o caminho para mim. Mas eu carrego comigo o mapa, e sigo repetindo, como mantra: "Confie nas suas pernas, Gabriel. Não nas rodas dos outros. Confie nas suas pernas".

   Em ônibus a gente perde o ponto, o cobrador não sabe indicar nada e tem gente ouvindo funk (que, na minha opinião, é outro erro do mundo, mas né...). A pé tem carros, fumaça... Mas há passarinhos, vento, folhas, um pouquinho de sujeira e algumas paisagens bem bonitas!

   Enfim, fui ao Congresso. O caminho era: Casa >> Ônibus >> Caminhada >> Congresso. E na volta, o oposto. O problema era que a caminhada da volta seria feita à noite, e por mais que eu goste das caminhadas, por mais que eu goste de andar em ruas que não conheço, fazer isso à noite não é legal, especialmente se as ruas são escuras. E essas eram. Assim, eu me concedi o gasto de um táxi. Planejei e pensei: Ok, saindo de lá eu pego um táxi até o local onde posso pegar o ônibus para casa.

   Qual não foi minha surpresa quando descobri, saindo do evento, que havia uma van para me levar até uma estação de metrô, de onde eu poderia vir para casa? Isso, queridos, é o universo cooperando comigo! E ele coopera sempre, com todo mundo que anda a pé por opção, e sem xingar os buracos da calçada. Quem anda a pé por opção sabe andar a pé. Quem anda a pé só quando precisa é como quem dirige só em emergências: provoca acidentes.

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