sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Aprendendo com Sua Santidade, o Dalai Lama

   Depois de algum tempo procurando viver com minimalismo, esbarrei no livro A Arte da Felicidade, de Sua Santidade, o Dalai Lama. O li muito rapidamente, e preciso reler logo. Mas algumas coisas me encantaram. A simplicidade do raciocínio de Sua Santidade é espantosa, e demonstra uma vida de simplificação de princípios complexos e desafiadores tanto do ponto de vista filosófico quanto do espiritual e do político. Como todos sabemos, ele é o líder do governo Tibetano no exílio, ao mesmo tempo que é a referência máxima viva do budismo tibetano e também Prêmio Nobel da Paz.

   Terminando A Arte da Felicidade, que li em papel e não na edição que compartilho aqui, disponível gratuitamente online, fiquei com vontade de entender melhor o que o mestre budista dizia e compreender de forma um pouco mais aprofundada as referências que ele só cita rapidamente nesse livro. Por isso, fui atrás de outras obras do escritor, e descobri um livrinho de bolso barato e fácil de achar: Nas Minhas Palavras. O que o livro tem de barato e disponível, tem de difícil, de complexo e de interessante.

   Em A Arte da Felicidade, Sua Santidade explica que tudo o que todos os seres humanos desejam é que

sejam felizes e não sofram.

   A partir desta premissa, o líder espiritual traça longas explanações sobre como evitar o sofrimento e alcançar a felicidade. Segundo ele, satisfazer desejos materiais (de aquisição ou conquista física) só leva ao nascimento de novos desejos. Assim, a satisfação das vontades não é a chave para a felicidade. A extinção dos desejos e de sentimentos negativos, como a raiva e o ódio seria, sim, o verdadeiro caminho para uma vida leve e feliz.

   O porta-voz tibetano (minhas referências estão acabando) explica uma maneira simples de extinguir a raiva e o ódio: em nossa natureza mais fundamental, tudo o que queremos é alcançar a felicidade e não sofrer. Assim, quando alguém nos fizer algo que pareça ser negativo, na verdade esta pessoa está somente buscando, ainda que de forma errada, a felicidade. E está, em sua visão, evitando o sofrimento. Por esta pessoa ser igual a nós ela tem todo o direito de tentar ser feliz, e não devemos odiá-la por isso. Podemos não desejar que ela aja de certa forma conosco, mas odiar a pessoa é irracional e descabido.

   A outra proposta do Lama é que exercitemos a paciência e a tolerância. Ele nos diz que este é o caminho para a o desenvolvimento da compaixão que, por sua vez, leva à felicidade e à extinção do sofrimento. Para o mestre budista, não devemos nos enfurecer com as pessoas que nos atingem negativamente por dois motivos. Um deles é bastante filosófico, e o outro tem a ver com a crença oriental:

Primeiro, em vez de sentirmos raiva para com aqueles que a provocariam em nós, devemos ser-lhes gratos, já que essas pessoas nos dão a chance única e especial de praticar a paciência e a tolerância, e assim chegar à compaixão e à felicidade. Este é o primeiro motivo.

O segundo motivo de gratidão para com nossos ofensores é que eles nos ajudam a vencer o karma de vidas passadas, ou mesmo o desta vida. Por meio do exercício da paciência e da tolerância, desenvolvemo-nos espiritualmente e queimamos o karma que nos cabe, aumentando, assim, a chance de um nascimento mais auspicioso em uma próxima encarnação.

   É claro que está sendo um desafio, mas um desafio extremamente agradável. Eu ainda não consigo ser grato aos que me enfureceriam. Mas eles não me enfurecem mais. A técnica prática para isso? Quando você estiver a ponto de sentir raiva, ou achar que esse momento vai chegar logo, feche os olhos. Conte até vinte (estou sendo literal aqui, como ele foi. Um, dois, três... até vinte) e preste muita atenção na sua respiração. Lembre-se de que sentir raiva não te fará nenhum bem, fará mal à sua circulação, aos seus órgãos, à sua pele. Seu rosto se contorce, sua voz se altera e você perde o controle de sua mente. Lembre-se de tudo isso. Lembre-se também de que é bom e agradável exercitar a paciência, a tolerância e a compaixão. Lembre-se de que a pessoa que lhe provoca sentimentos negativos é, na verdade, um ser humano como você, e que tudo o que ela deseja é ser feliz e não sofrer, como você. Conte até vinte, respire, preste atenção na respiração, lembre-se de tudo isso. É difícil, mas não demora e nos sentimos melhor depois de conseguir. Vale a pena.

Um. Respire. Dois. Respire. Três. Lembre-se de que sentir raiva não te fará nenhum bem, fará mal à sua circulação, aos seus órgãos, à sua pele. QuatroSeu rosto se contorce, sua voz se altera e você perde o controle de sua mente. CincoLembre-se de tudo isso. SeisLembre-se também de que é bom e agradável exercitar a paciência, a tolerância e a compaixão. SeteLembre-se de que a pessoa que lhe provoca sentimentos negativos é, na verdade, um ser humano como você. OitoE que tudo o que ela deseja é ser feliz e não sofrer, como você. NoveRespire. DezRespire. OnzeLembre-se de que sentir raiva não te fará nenhum bem, fará mal à sua circulação, aos seus órgãos, à sua pele. DozeSeu rosto se contorce, sua voz se altera e você perde o controle de sua mente. TrezeLembre-se de tudo isso. QuatorzeLembre-se também de que é bom e agradável exercitar a paciência, a tolerância e a compaixão. QuinzeLembre-se de que a pessoa que lhe provoca sentimentos negativos é, na verdade, um ser humano como você. DezesseisE que tudo o que ela deseja é ser feliz e não sofrer, como você. DezesseteLembre-se também de que é bom e agradável exercitar a paciência, a tolerância e a compaixão. DezoitoTente sentir gratidão por esta pessoa lhe dar esta oportunidade. DezenoveTente de novo. VinteRespire e abra os olhos.

   Incrível como funciona, não é?

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